ATA DA DÉCIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 28.04.1998.

 


Aos vinte e oito dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Câmara Municipal de Porto Alegre, nos termos do § 1º do artigo 7º do Regimento, a Requerimento, aprovado, do Vereador Gerson Almeida. Às dezenove horas e trinta e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Carlos Alberto Dayrell, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 56/98 (Processo nº 682/98), de autoria do Vereador Gerson Almeida. Compuseram a MESA: o Vereador Clovis Ilgenfritz, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; a Senhora Wrana Maria Panizzi, Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; o Senhor Eduardo Kroeff Carrion, Diretor da Faculdade de Direito da UFRGS; o Senhor Francisco Milanês, Presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural - AGAPAN; o Senhor Carlos Alberto Dayrell, Homenageado; o Vereador Gerson Almeida, proponente da Sessão e, na ocasião, Secretário “ad hoc”. Ainda, como extensão da Mesa, foram registradas as presenças da Senhora Alexandrina de Souza Dayrell, mãe do Homenageado; do Senhor Hideraldo Caron, Secretário Municipal do Meio Ambiente; da Senhora Magda Renner, Presidente da ADFG - Amigos da Terra; da Senhora Caroline Dayrell, sobrinha do Homenageado; dos Senhores Caio Lustosa, Giovani Gregol e Cláudio Langoni, ex-Secretários Municipais do Meio Ambiente; do Senhor Flávio Lewgoi, da Diretoria da AGAPAN; de parentes e amigos do Homenageado.  A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, em prosseguimento, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Gerson Almeida, em nome das Bancadas do PT, PTB, PMDB, PSB e PPS, relembrou a atuação do Senhor Carlos  Alberto Dayrell, em mil novecentos e setenta e cinco, quando, ainda estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, impediu a derrubada de árvore na Avenida Salgado Filho, em um ato de defesa ecológica que virou símbolo da luta em prol da liberdade e contra o governo militar. O Vereador Elói Guimarães, em nome das Bancadas do PDT e do PFL, saudou o Homenageado, afirmando ser o Senhor Carlos Alberto Dayrell um "verdadeiro marco do movimento ecológico brasileiro e internacional" e registrando que deverá encaminhar Projeto de Lei propondo que a árvore seja o símbolo da ecologia em nossa Cidade. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB,  declarando vivermos numa "sociedade pós-industrial cujos dejetos, além de causarem  moléstias,  machucam, também, a nossa alma", destacou a justeza da presente homenagem, como o reconhecimento dos porto-alegrenses ao papel desempenhado pelo Senhor Carlos Dayrell na luta em defesa do ambiente natural. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Francisco Milanês, Presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural - AGAPAN, ao Senhor Eduardo Kroeff Carrion, Diretor da Faculdade de Direito da UFRGS, à Senhora Wrana Maria Panizzi, Reitora da UFRGS, e ao Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito de Porto Alegre, que saudaram o Senhor Carlos Alberto Dayrell, discorrendo acerca da abrangência e importância do movimento ecológico como veículo de conscientização e de busca de um desenvolvimento positivo e concreto para o País. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, assistirem à entrega, pelo Vice-Prefeito José Fortunati e pelo Vereador Gerson Almeida, do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Carlos Alberto Dayrell, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido.  Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às vinte e uma horas e trinta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Clovis Ilgenfritz e secretariados pelo Vereador Gerson Almeida, Secretário "ad hoc". Do que eu, Gerson Almeida, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

               

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Damos início a esta Sessão Solene  destinada à entrega do Título de Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Carlos Alberto Dayrell, de acordo com o Requerimento nº 56, Processo nº 682/98, de autoria do Ver. Gerson Almeida. Convidamos para compor a Mesa o Sr. José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Sr. Carlos Alberto Dayrell, nosso homenageado; a Sra. Wrana Panizzi, Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; o Sr. Eduardo Kroeff Carrion, Diretor da Faculdade de Direito; o Sr. Francisco Milanês, Presidente da AGAPAN.

Convido a todos para ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Procede-se à execução do Hino Nacional.)

 

O Ver. Gerson Almeida está com a palavra que falará pelas Bancadas do PT, do PTB, do PMDB, do PSB e do PPS. 

 

O SR. GERSON ALMEIDA: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Ano 1975. Cidade Porto Alegre. O estudante da UFRGS Carlos Dayrell impede que continue sendo derrubada mais uma árvore para dar lugar às obras do viaduto José Loureiro da Silva, na Av. Salgado Filho. A forma escolhida foi a mais singela e também demonstrou ser a mais eficiente: subiu numa Tipuana, localizada em frente a faculdade de Direito da UFRGS e ali ficou num protesto solitário. A árvore ainda esta ali, numa espécie de monumento vivo da luta pela qualidade de vida nas cidades e que hoje recebeu placa comemorativa. O protesto de Dayrell, inicialmente solitário logo recebeu grande adesão. Em muito pouco tempo, sua atitude passou a ser objeto de intenso debate na cidade e muitas pessoas foram dar-lhe apoio ou apenas se aproximaram por curiosidade, não sem uma ponta de solidariedade. É claro que se fizeram presentes, também, as chamadas forças da ordem. E como a ordem era derrubar as árvores, a situação, por muito pouco, não encrespou de vez.

Naqueles anos nosso país estava sob forte influência do “milagre brasileiro”. A euforia oficial com o modelo de desenvolvimento, baseado numa industrialização rápida, era tamanha que não era permitido aos brasileiros a alternativa da oposição. No contexto de exaltação nacionalista produzido pelo governo militar, só era permitido amar, ou deixar o Brasil. Bem entendido que o país era confundido com o governo, num bom exemplo do pensamento autoritário. O ame-o, ou deixe-o não foi apenas um slogan. Foi expressão de uma política que encheu cárceres e fez desaparecer muitos que amavam a democracia e a liberdade e lutavam para vê-las restauradas no nosso Brasil. O próprio Dayrell foi obrigado a dar muitas explicações ao DOPS depois que desceu, vitorioso, da Tipuana

Sem contexto nada pode ser entendido, tampouco dimensionado. É muito oportuno, portanto, que no dia de hoje lembremos do ambiente político dos anos setenta em nosso país. É aí que o gesto do nosso homenageado ganha ainda mais relevância.

O Carlos Dayrell, era um daqueles que amavam a democracia e a liberdade. Mas ele tinha uma particularidade. Sabia - naquele tempo em que poucos tinham esta consciência - que a luta pela democracia e pela liberdade não podia estar dissociada da defesa do meio ambiente, da defesa de qualidade de vida para todos. Esta é a lição mais duradoura que o seu gesto no dia 25/02/75 nos ensinou.     

A forte repercussão e o amplo debate suscitado, com interesse em todo o país, demonstraram que havia um ambiente social propício para as questões ambientais em Porto Alegre. Isto deve ser reconhecido como resultado do trabalho dedicado e competente de dezenas de ambientalistas que já haviam fundado, em 1971, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural -AGAPAN - a primeira entidade ambientalista do país, que ontem completou 27 anos. Sendo assim, o Carneiro, o Lutzemberguer, o Caio Lustosa, o Flávio Lewgoy, o Celso Marques, a Giselda Castro, a Magda Renner, o Milanês, seu atual presidente, e tantos outros, estão, também, sendo homenageados, hoje, por tudo o que tem feito para que nossa cidade seja vanguarda da luta ambiental em nosso país.

O ato de subir na árvore para impedir que ela fosse cortada e a alteração do projeto original daquela obra, resultante de toda a mobilização que lhe seguiu, foi a primeira vitória da luta ambiental contra a ideologia desenvolvimentista, que nas cidades reduz a noção de progresso à construção civil. O gesto do  Dayrell, é, assim, um marco das grandes lutas e debates sobre a gestão ambiental urbana que, de lá para cá, não pararam.

A luta ambiental nos permite a mais radical crítica ao paradigma de desenvolvimento como processo de produção de mercadorias, onde os interesses de cada cidadão devem estar subordinados aos interesses da reprodução do capital. Ao fazer do centro da sua luta a busca de qualidade de vida para todos, ela demonstra a sua insubordinação à ordem fundada na exclusão. A luta ambientalista, ao colocar a vida e a sua qualidade como o núcleo a partir do qual devem ser organizadas as relações sociais, econômicas e culturais da sociedade, constitui-se num forte elemento de recuperação do humanismo. A luta em defesa do meio ambiente é uma luta humanista por excelência.

O jovem Dayrell não sabia que lutar por tudo isto era impossível, foi lá e fez.

Olha, Dayrell, eu tenho prazer em te conhecer, fico feliz em ter tido a oportunidade de ser o Vereador que encaminhou o Projeto de te homenagear. Homenagem que foi idealizada por várias entidades ambientalistas de nossa cidade e que encontrou no professor Eduardo Carrion, diretor da Faculdade de Direito da UFRGS, um entusiasta e generoso organizador.

Cada vez mais precisamos desconhecer o impossível para que possamos fazer realidade o sonho de um mundo que possibilite a felicidade humana. O trabalho profissional que exerces hoje, junto ao Centro de Agricultura Alternativa, na difusão da agricultura ecológica a pequenos agricultores e áreas de assentamento, e sua militância na luta pela conservação dos cerrados, honram o gesto que fizestes há 23 anos. A homenagem que te prestamos agora é muito justa e necessária. A cidade de Porto Alegre, através da Câmara de Vereadores, está oficializando o carinho que tu já conquistastes da população da cidade. Obrigado, companheiro, pela importante lição que nos permitiu aprender.  

                   

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Elói Guimarães está com a palavra que falará pelas Bancadas do PDT e do PFL.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Estamos hoje, aqui, numa noite histórica para todos nós e, para mim tem uma significação especial participar desta solenidade.

Tive a honra e a oportunidade de estudar, aqui, Prof. Carrion, na Faculdade de Direito. A minha turma não teve placa, nem paraninfo, porque o paraninfo que escolhemos foi o Prof. Ajadil de Lemos, que hoje está hospitalizado e lhe presto esta homenagem, e que, na oportunidade, foi cassado e, por isso, não foi possível participar como paraninfo da nossa turma. Por outro lado, convidamos o Arcebispo de Olinda em Recife, D. Elder Câmara, que, também, não foi concretizado.

Este é um momento, para mim, extremamente de emoções, pois este ato que está sendo realizado na Faculdade de Direito que inicia as suas festividades, numa hora extremamente difícil e dolorosa para as Universidades brasileiras, de comemoração ao seu centenário no ano 2000.

Nós, aqui, hoje, por proposição extremamente inteligente, oportuna e adequada, estamos homenageando alguém que é um verdadeiro marco do movimento ecológico, e porque não dizer do movimento ecológico internacional, que é o Sr. Carlos Alberto Dayrell, que através do seu gesto e do seu ato, no momento que se destruía a natureza e o meio ambiente, não só aqui no Brasil, mas em outras partes, especialmente da América subdesenvolvida, de grandiosidade, um verdadeiro marco, sobe à árvore à frente da Faculdade de Direito da Universidade do Rio Grande do Sul. E a partir dali, o movimento ecológico e todas as lutas que se faziam, ganha um impulso extremamente fantástico e começa a se criar uma forte consciência ecológica na defesa do meio ambiente, na defesa da vida, do ecossistema, dos rios, das nossas matas, da nossa fauna, e desenvolve-se com muita força, com grande organização e com sistematização no processo de ação o movimento do meio ambiente.

Quando, ali sentado, ouvia as palavras belíssimas do autor da proposição, Ver. Gerson Almeida, ocorria-me um proposta, Ver. Gerson, que haveremos de subscrever juntos. Evidentemente que o meio ambiente e a ecologia é formada de todo esse complexo da natureza, mas vou apresentar na Câmara Municipal de Porto Alegre um Projeto, em nível Municipal, fazendo com que o símbolo da ecologia, em nossa Cidade, seja a árvore. Evidentemente que todos os aspectos da natureza são símbolos da ecologia, mas vou me permitir, exatamente, para marcar esta grande significação que foi, em Porto Alegre em 1975, quando um estudante de engenharia, num gesto que, talvez, muitos não compreendiam a sua significação e que, por isso, denunciavam como um caso de polícia, subia na árvore e, a partir dali, desenvolvia-se, por todo noticiário nacional e internacional, o grande grito na defesa do meio ambiente e da ecologia. E disse, Dayrell, quando discutíamos e encaminhávamos o Projeto de autoria do Ver. Gerson Almeida, que teu gesto contribuiu muito para que melhorássemos as condições de qualidade de vida da cidade de Porto Alegre de forma objetiva, porque, e aqui estão os verdadeiros veteranos da luta ecológica, aquele momento era um momento marcante, era um momento em que o fato, na defesa da ecologia, pelo noticiário, por toda uma discussão e por todo um processo, imantava a consciência de porto-alegrenses, gaúchos e brasileiros e até no noticiário internacional.

Este é um momento grandioso que nós assistimos, aqui, no Salão Nobre da Augusta Faculdade de Direito da Universidade do Rio Grande do Sul e que gostaríamos, prezada Reitora e prezado Diretor da Faculdade de Direito, vermos as nossas Universidades em outras situações, mas parece que se perdeu a consciência do papel da Universidade, a omissão, a falta de perspectivas e, inclusive, hoje as Universidade estão em greve.

Dayrell, em nome da cidade de Porto Alegre, em nome do meu partido, Partido  Democrático Trabalhista, e em nome do PFL, do Ver. Reginaldo Pujol, que não se encontra no momento, e pediu-me que o representasse, pois comparece, nesta hora, à missa de 7º dia do falecimento do Deputado Federal, Luiz Eduardo Magalhães, e, por isso, pede que eu transmita a saudação, o abraço e o agradecimento por tudo que tu fizestes e por tudo que tu fazes, tu que és um homem defensor da ecologia, um ambientalista, um homem que dedica a vida na defesa, hoje, do cerrado. Receba, portanto, da cidade de Porto Alegre este grande agradecimento e um agradecimento do Estado pelo ato grandioso e pelo gesto que tu tiveste, naquele momento, fazendo com que a consciência ecológica, a partir dali, tivesse um desenvolvimento fantástico. E não faz muitos anos, em 1975, era comum, por falta de consciência, agredirem a natureza, por exemplo, cortando as árvores, onde as pessoas não davam muita significação, e que, a partir daquele momento, o teu gesto passou a significar.   

Receba a nossa homenagem e o nosso agradecimento da Câmara Municipal de Porto Alegre por esta contribuição significativa que tu deste, em última análise, à vida. Foi o grande gesto de um verdadeiro neologismo que li na placa - “Ecocidadania”. Foi o grande gesto que tivemos, em nosso País, de ecocidadania perpetrado por ti no momento de significação transcendental para todos nós. Nós da geração que, talvez, ganhássemos um pouco de qualidade de vida devemos a ti, aos teus companheiros e à AGAPAN esta entidade de luta que tive a oportunidade, em diferentes momentos, caminharmos juntos, eu e o Caio, em determinadas épocas, íamos de carteirinha nas passeatas em defesa da ecologia enfrentando verdadeiras escaramuças nas ruas da cidade de Porto Alegre.Com essas palavras quero saudar-te reiteradamente pelo gesto e pela grandiosidade da tua obra para as gerações atuais e, indiscutivelmente, para as gerações futuras. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Como extensão da Mesa, tenho a satisfação de nominar: Sra. Alexandrina de Souza Dayrell, mãe do Homenageado; Sr. Hideraldo Caron, Secretário Municipal do Meio Ambiente; Sra. Magda Renner, Presidente da Associação dos Amigos da Terra; Sra. Caroline Dayrell, sobrinha do Homenageado; Sr. Caio Lustosa, Sr. Giovani Gregol e Sr. Cláudio Langoni, Ex-Secretários do Meio Ambiente; Sr. Flávio Press, Presidente da FEPLAM; membros da diretoria da AGAPAN em especial ao Sr. Flávio Lewgoy; parentes e amigos do Homenageado, representantes de entidades, professores, alunos e funcionários aqui presentes.

O Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra que falará pela Bancada do PSDB.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Esta Sessão é, indiscutivelmente, a soma do homem e do gesto, do jovem e do seu ato, de esperança e de um novo ritual. Nesta vertiginosa transformação do mundo, em que a renovação científica se faz quase que diariamente nos dificultando e quase nos impossibilitando de atualização, percebe-se, claramente, o fim do racionalismo científico, da atitude selvagem, desumana e cruel que a sociedade industrial nos embretou. Vivemos as seqüelas dessa sociedade, vivemos uma sociedade pós-industrial, onde seus dejetos, além de nos causarem moléstia, machucam, também, a nossa alma.

Eu me encontro num dos templos dessa cidade de onde saíram os grandes saberes jurídicos - a sabedoria desta Universidade - com esses cem anos da Faculdade de Direito, que é um símbolo não só arquitetônico, mas magnífico, e o prazer estético de estar dentro desta Faculdade se une à presença de sua história, ao a um legado desta  Faculdade, que está plenamente justificado nesta magnífica atitude, deste feliz evento, onde o Ver. Gerson Almeida junta inspiração e talento, comuns na sua atitude parlamentar, para hoje nos presentear com essa lição que não é comum para mim, sou oriundo de uma outra área da humanidade, sou médico formado pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre. Tenho pensado em como a natureza é bem feita, um conjunto respiratório de um indivíduo, feito de uma área respiratória superior, dois brônquios e dois pulmões, são banhados pelo sangue e levam oxigênio para os tecidos, esse ato de juntar o oxigênio da atmosfera, a glicose como energia, se eles chegarem até a célula e saírem como gás carbônico a árvore faz isso ao contrário. A árvore pega o gás carbônico, decorrente da degradação da glicose, junta com a energia solar, faz a fotossíntese e, ao invés de exalar como nós o gás carbônico, ela exala oxigênio para nós inalarmos depois. Essa interação entre a natureza e o ser humano é totalmente devastada- e aqui o meu libelo maior - pelo vício, pela dependência química de um produto chamado cigarro, uma das tragédias do nosso século. Eu trabalho em uma enfermaria de pulmão, aonde, assim como no presídio há uma concentração da criminalidade, há uma concentração dos efeitos nocivos do tabagismo. No engodo maior de se achar que uma Indústria pode fornecer emprego e gerar impostos, ela gera também cadáveres, morte, destruição e muito pior do que tudo, gera uma péssima qualidade de vida (palmas). Este é um libelo de uma pessoa que está diariamente transitando pelas enfermarias, não só numa solidariedade com os seus pacientes, mas também lutando para que essa mídia que tem sido mentirosa e cruel com relação ao cigarro, essa falácia imensa, dizem que falar é ir ao sucesso. Não é verdade, os filmes mais lindos que conheço são os filmes de propaganda a favor do cigarro. Contra o cigarro tem apenas um “slide” estático, parado, azul, dizendo que o cigarro faz mal. Mentira, o cigarro não faz mal, ele mata, mata genocidamente, mata em profusão. Freqüentei, nos bancos da Faculdade, um curso sobre utopias, e aprendi que utopia é um sonho, não que não seja realizável, mas é a distância entre a realidade e esse sonho, e um dia vamos banir toda essa autodestruição que fazemos, todo esse sofrimento com essa péssima qualidade de vida das pessoas que são doentes do pulmão. Imaginem exatamente o contrário, cortar uma árvore, que insanidade, que loucura. Vamos lutar, como Vereadores, para que o discurso se aproxime da realidade, para que cada centímetro da árvore, cada centímetro de oxigênio, cada palmo das nossas praças, sejam guardadas, defendidas como defendeu Carlos Dayrell dessa poluição que vemos, sob todos os aspectos, a forma desumana como nós, os humanos, tratamos a nossa água, o nosso ar, e o nosso chão, sem esquecer a poluição visual. Temos o orgulho de ter Carlos Alberto Dayrell aqui conosco, nesta iniciativa maravilhosa do Ver. Gérson Almeida, jamais esqueceremos essa coragem de não se omitir. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queríamos também considerar, como extensão da Mesa, e fazer uma homenagem especial, aos companheiros da imprensa que nos prestigiam, em especial àqueles que na luta ecológica têm sido sensíveis e tratam o assunto com muito carinho e prestam um serviço importante a todos. Gostaria de homenagear os jornalista presentes neste momento.

O Sr. Francisco Milanês está com a palavra.

 

O SR. FRANCISCO MILANÊS: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa.) Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Ver. Gérson Almeida e a Câmara de Vereadores por fazerem essa homenagem tão justa a esse cidadão brasileiro, agora cidadão porto-alegrense. Não estamos acostumados a homenagens, a luta tem sido, por muitos anos, dura, movida por  um profundo e singelo  sentimento de amor à vida, raras vezes temos a oportunidade de assistir a homenagens. Estou muito feliz. Vou ler um texto curto, coletivo. Peço desculpas pela leitura, pois não estou acostumado a ler textos, em geral discurso de improviso, mas esse texto é importante, através dele queremos homenagear ao Dayrell, COLMÉIA, DFG, União pela Vida, Núcleo de Ecojornalistas, enfim, todas as entidades ambientalistas que fazem a luta deste Estado, como a própria AGAPAM. Ainda estamos em cima da árvore Homenagem a Carlos Alberto Dayrell. Há quase três décadas, o estudante e associado da AGAPAN, Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural - Carlos Alberto Dayrell, subiu em uma árvore em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, impedindo que ela e outras fossem desnecessariamente derrubadas para a construção de uma via elevada. A multidão, solidária, que presenciou aquele ato e milhões de pessoas que dele tomaram conhecimento no mundo inteiro compreenderam a novidade radical e o imenso significado daquele gesto exemplar. O acontecimento, manchete na imprensa local, nacional e mundial, foi um dos símbolos que consagraram o surgimento do ambientalismo como uma nova tomada de consciência da realidade e como a bandeira de uma nova ética universal a impor limites ao industrialismo selvagem e ao consumismo predatório da civilização industrial contemporânea.

Na época de Dayrell a agressão à natureza começou a ser percebida como parte da opressão política e da repressão ideológica promovida pelas ditaduras militares na América Latina e pela guerra fria. A descoberta das possibilidades e da necessidade do desenvolvimento de relações de solidariedade com o mundo natural e humano faziam parte de uma mesma busca de liberdade. Além disso, a problemática ecológica introduzia questionamentos que não se enquadravam na visão de mundo das concepções políticas vigentes naquele período de radicalização do conflito entre as ideologias de esquerda e direita. A novidade ecológica era recebida como uma entrada de ar fresco, uma ampliação dos horizontes da condição humana e do seu sentido. Os problemas colocados por uma obra como “Os limites do Crescimento” (1968) derrubam o dogma fundamental do capitalismo e também dos países ditos comunistas: a necessidade e a possibilidade do crescimento econômico e do aumento contínuo da produção e do consumo como condição do desenvolvimento econômico e social. A I Conferência Mundial  sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Estocolmo, junho de 1972), com a participação lamentável da representação brasileira - que convidou os poluidores do mundo a virem ¨desenvolver¨ o Brasil - representava o reconhecimento oficial da problemática ecológica. A atuação pioneira da AGAPAN, fundada a 27 de abril de 1971 em Porto Alegre, através da figura de José Lutzenberger, encontrava uma ressonância na mídia local e nacional e junto aos meios universitários. Pensadores e líderes ambientalistas perceberam que harmonizar civilização industrial e natureza era um desafio que exigiria uma revolução cultural econômica e social sem precedentes. O ¨Fim do Futuro - Manifesto Ecológico Brasileiro¨(1976), escrito por José Lutzenberger, então presidente da AGAPAN, foi a primeira e única obra a traduzir em termos de contexto cultural brasileiro uma resposta global e abrangente ao desafio ecológico. A imprensa brasileira dava uma cobertura intensa e permanente às questões ambientais. Paralelamente, desde o início dos anos 70, a administração pública, pressionada pelos ambientalistas, começou a se ocupar da questão ambiental, criando secretarias, ministérios, conselhos, comissões, gerando legislação ambiental e órgãos de controle de poluição, nos âmbitos federal, estadual e municipal. A AGAPAN lançou campanhas contra a poda de árvores, o uso de agrotóxiicos, a energia nuclear, a devastação da Amazônia e numerosos outros temas, obtendo vitórias sucessivas em termos de legislação e apoio da opinião pública. O gesto de Dayrell ao subir naquela árvore simbolizou a nova tomada de consciência de uma época.

Hoje, os tempos são outros. Vimos o fim dos governos militares no Brasil e América Latina, ao que seguiu a distensão do conflito entre capitalismo e comunismo. A ascensão do neoliberalismo e a normalização democrática da política brasileira diluíram a dimensão política da questão ambiental. Atualmente a ideologia consumista e predatória da civilização industrial - com seus ¨shopping centers¨, seus produtos descartáveis, seu lixo e seus estragos irreversíveis na saúde pública e na natureza triunfa como uma nova religião. Os meios de comunicação de massa promovem uma verdadeira lavagem cerebral confundindo o consumismo como a própria felicidade. O vocabulário ambientalista foi apropriado pelos governos, pela mídia e pela indústria; o ¨verdismo¨ virou moda e até grife. As estratégias de marketing e publicidade lançam uma cortina de fumaça verde sobre a realidade, impedindo uma compreensão pública mais efetiva da problemática ambiental e das mudanças necessárias para solucioná-la. A realidade antiecológica, opressora e devastadora, justamente denunciada pelo protesto de Dayrell ao subir na árvore, continua a existir com mais força até do que em tempos passados.

A realização da RIO-92 foi a culminância de um processo de confraternização ambientalista mundial e de ecologização da opinião pública, que teve lugar apesar dos poderes da civilização industrial ali presentes. As dificuldades encontradas para a assinatura de tratados e as posições intransigentes da maioria dos países industrializados na defesa dos interesses econômicos em detrimento da biodiversidade foram nuvens negras no céu azul dos ecologistas alí reunidos.

Vivemos atualmente o paradoxo da aparente consagração definitiva das teses do movimento ecológico sem as esperadas e necessárias transformações na ideologia do consumismo ilimitado e suas contrapartidas nos planos políticos, econômicos, tecnológisco e comunicacional-informacionais. Decorridas quase três décadas de ambientalismo, as lideranças culturais, políticas, científicas e tecnológicas brasileiras, presas a paradigmas pré-ecológicos ultrapassados (ironicamente explicáveis pela teoria da dependência, elaborada por Fernando Henrique Cardoso) ainda não deram respostas ao desafio de propor modelos alternativos de desenvolvimento que incorporem criativamente a dimensão ecológica no que ela tem de mais radical. O chamado ¨desenvolvimento sustentável¨ é o discurso oficial de governos e empresariado que corresponde ao conceito sociológico de ¨modernização conservadora¨ (expressão utilizada por Hélio Jaguaribe), ou seja, é uma reação paliativa ao desafio ecológico que não atende efetivamente as demandas tecnológicas, econômicas, políticas e culturais que se apresentam.

Entretanto, apesar de desafiarem poderosos interesses econômicos e políticos, as idéias do movimento ecológico continuam a provocar uma irresistível trajetória de transformações pontuais em praticamente todos os campos da cultura. Estas vão desde reformulações teóricas em diversos campos do conhecimento, da ética à filosofia, das artes às ciências humanas e naturais, inclusive apresentando inovações tecnológicas - como na agricultura, onde a perspectiva agroecológica vem ganhando terreno dia a dia em todos os lugares do mundo.

Mesmo assim, o gesto exemplar de Dayrell deve ser reinterpretado. Quando aconteceu, a compreensão da problemática ambiental era mais simples e estava muito mais ao alcance do grande público, pode-se dizer, que a resposta à problemática instaurada pela Revolução Industrial. Hoje temos uma nova complexidade que vem no bojo da revolução biológica em curso. A biotecnologia, os organismos transgênicos, o patenteamento de seres vivos e todas as implicações econômicas daí derivadas apresentam uma complexidade cuja compreensão ainda está muito longe do domínio público.

O atual sistema econômico, por ser intrinsecamente incapaz de refutar os questionamentos trazidos pelo paradigma ecológico, realiza apenas modificações de fachada nos processos industriais poluentes - e ainda cria novos problemas no campo biológico - sem qualquer alteração na ideologia do consumo ilimitado.

Nós ecologistas não temos soluções prontas, imediatas e tranqüilizadoras que assegurem a preservação da biodiversidade essencial à manutenção da vida no planeta. Da mesma forma não podemos isoladamente garantir a adoção de um novo imperativo ético de solidariedade com as gerações futuras.

Assim, após quase três décadas de movimento ecológico, o gesto de Dayrell continua a ser um símbolo de valor permanente tanto para a AGAPAN, como para os ambientalistas do Brasil e do mundo. Muito Obrigado Dayrell

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Sr. Eduardo Kroeff Carrion está com a palavra, diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

 

O SR. EDUARDO KROEFF CARRION: Sr. Presidente e Srs. Vereadores (Saúda os componentes da Mesa) Em nome da Faculdade de Direito da Universidade Federal do rio Grande do Sul é uma honra essa homenagem a Carlos Dayrell que iniciou com descerramento da placa de homenagem em frente a tipuana que foi o centro do episódio em 25 de fevereiro de 1975. Antes de tudo dizer que o episódio de hoje, que é de memória e continuidade da luta, foi um longo esforço, houve uma iniciativa da Faculdade mas foi acolhida pelo movimento ambientalista. Foram sucessivas reuniões, democraticamente o espaço estava aberto a todas entidades ecológicas para prestarmos esta homenagem. Agradeço a todas as entidades, a AGAPAN, que ontem comemorou os 20 anos de luta, aqui representada pelo Francisco Milanês e por inúmeros militantes; a PANGEA com a presença do Carneiro; o Núcleo de Ecojornalistas com o Jorn. Roberto Villar; a União pela Vida da Hilda Zimermann; a COLMÉIA da Vanete; estendo a homenagem a Dona Magda Renner, representando a Associação Democrática Feminina Gaúcha; o Celso Marques; o Giovani Gregol, que foi Secretário do Meio ambiente; ao Ex-Professor Flávio Lewgoi, que é um referencial desta luta; ao Caio Lustosa; talvez eu tenha pecado em não nomear alguns nomes; a nova geração de militantes aqui presentes; ao Gerson Almeida, faço um agradecimento especial, ele de imediato acolheu essa iniciativa, colocou à disposição toda a estrutura de seu gabinete, encaminhou o pedido para a concessão desse título, também encaminhou pedido para realização desta Sessão Solene aqui na Faculdade de Direito; a primeira Sessão Solene da Câmara dos Vereadores que se realiza. Transmita os nossos agradecimentos à Presidência da Casa, aos colegas Vereadores por esse desprendimento, deslocarem-se para a Faculdade de Direito, talvez reconhecendo a importância desta Faculdade na trajetória da Cidade, do Estado e do Brasil. A nossa participação nessa programação resulta de um compromisso da  Faculdade de Direito com a Cidade de Porto Alegre, com o Estado do Rio Grande do Sul, e com a sociedade brasileira. Estamos com este evento, e alguns outros, que fazem parte da programação do centenário, retomando as nossas tradições em inserção às lutas sociais e políticas deste País. Em grande parte, as raízes ideológicas da Revolução de 30, estão nesta Faculdade. Fomos um instrumento da modernização do Brasil. Hoje, estamos atentos, a Universidade Brasileira está seriamente ameaçada, hoje estamos definindo a própria sobrevivência da Universidade Brasileira. Desculpe Magnífica Reitora em usar essas palavras incisivas, mas hoje à tarde, discutíamos, na sua sala, essa circunstância. Nosso compromisso com o movimento social, ao mesmo tempo em que encaminhamos a nossa atividade acadêmica, registro publicamente que ainda na reforma curricular de  1986, incluímos, no currículo desta Faculdade, a disciplina de Direito Ecológico e Interesses Difusos, com ênfase em Direito Ecológico, mas tentando dar uma amplitude maior porque, naquele momento, não se tinha compreensão que a problemática ambiental era uma problemática holística mas em Direito Ecológico e Interesses Difusos, disciplina que até hoje temos. A problemática do direito ambiental está muito presente, a nossa relação com esta homenagem não é só essa sensibilidade do Direito para as novas realidades da vida social, entre as quais a realidade ambiental, mas temos uma dívida e um agradecimento com Carlos Dayrell. A preservação da árvore em frente a Faculdade foi um símbolo da luta ecológica aqui no Estado, mas, mais imediatamente, manteve o nosso contexto ideológico desta Faculdade. Temos um pátio belíssimo que foi ameaçado naquele momento, não tratou-se apenas das árvores em frente à Faculdade, a proposta construtivista era arrasar com o nosso pátio, sabemos disso. Havia uma proposta de alargar a avenida fronterista a Faculdade, Av. Sarmento Leite, ao mesmo tempo a Av. João Pessoa, e este gesto conseguiu preservar o nosso ambiente da Faculdade, e o ambiente da Cidade. O contexto político da época do gesto de Carlos Dayrell, naquele momento qualquer iniciativa de rebeldia, ou de contestação de iniciativas governamentais era interpretado, pelos donos do poder, como alta subversão, senão sedição, então esse gesto que, vinte e tantos anos depois, pode parecer um gesto até ingênuo, ou um gesto simples, foi um gesto de grande dignidade, e, mais do que isso, hoje à tarde, quando descerrávamos a placa comemorativa, Carlos Dayrell se referia que o gesto dele não era individual, era um gesto coletivo que teve o apoio de todos nós. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Temos a honra de passar a palavra à Magnífica Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Professora Wrana Panizzi.

 

A SRA. WRANA PANIZZI: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Em nome da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, eu gostaria de dizer da honra que tenho de participar deste ato na nossa Faculdade de Direito, um ato, acima de tudo, de homenagem a um ex-aluno - permita-me, Carlos, que assim o trate - desta Casa, que pôde, alguns anos atrás, em anos políticos bem difíceis, manifestar aquilo que nós queremos e que todos os alunos que freqüentam esta Universidade, querem: a mais ampla e mais qualificada formação profissional, mas, acima de tudo, que associem esta capacidade profissional à sua enorme formação e capacidade de indignação que se expressa no exercício da cidadania. Só assim esta Universidade será capaz, efetivamente, de cumprir com a sua função, que é preparar recursos humanos qualificados, produzir conhecimentos, mas que o faz, acima de tudo, para que isso permita que possamos desenvolver, cada vez mais, aquela que é a nossa capacidade, que se manifesta individualmente, mas que se manifesta em nome de uma coletividade: a nossa cidadania. O seu gesto foi de cidadania. Com relação a esse gesto, quero também me permitir fazer um paralelo entre a árvore que você, naquele momento, defendia, - e, ao defender a árvore você defendia a vida -: quando você defendia a árvore, você também defendia aquilo que estava próximo, que era a Universidade. Quero dizer que quando se é capaz de defender, uma árvore, que custa a nascer e a desenvolver-se, só faz isso quem acredita que os seus atos presentes são capazes de desenhar o futuro. Ao defender essa árvore você também defendia a Universidade, e digo isso porque hoje estamos vivendo um movimento muito grande de defesa da Universidade. Ontem eu participava de um ato na Escola de Engenharia, e um ex-aluno, daquela escola, bem mais velho que você, dava um exemplo quando ele manifestava por que era importante defender a Universidade. Ele dizia: "Quando eu era mais jovem, eu ouvi uma história, no Canadá, de um senhor que comprou uma planta e disse ao seu jardineiro: "Plante essa árvore, porque nós precisamos da sombra". O jardineiro respondeu: “Mas demorará tanto a dar sombra!” O dono da casa disse: “Então, plante-a imediatamente." Isso significa que somos natos de hoje, que o futuro constrói o amanhã. Usando a expressão daquele ex-aluno, eu digo: "A mesma coisa acontece com a Universidade, a Universidade que estamos construindo, que estamos defendendo e que você soube, como estudante desta Casa, defender naquele momento. Esta mesma Universidade não é a que queremos somente para hoje, nem para daqui a dois anos ou para somente a virada do século. É a universidade do futuro, que possibilitará com que a gente possa desenvolver todo o conhecimento necessário e todos os profissionais que sejam capazes de desenvolver a vida, e a vida na sua plenitude e, acima de tudo, a vida que nos é dada pela natureza. Nós, que fazemos parte deste mundo, deste planeta que, como as nossas instituições, muitas vezes é açoitado, é preciso, sim, que acreditemos que são os gestos individuais, que se tornam coletivos, que são capazes de preservá-lo. Por isso, em nome da Universidade Federal do Rio Grande do Sul eu quero, em primeiro lugar, parabenizar a nossa Faculdade de Direito. Professor Carrion, receba os cumprimentos de toda a nossa Universidade pelo gesto, pela liderança de uma homenagem que encontrou eco nos Srs. Vereadores, e que hoje se realiza nesta Casa. É digno desta Casa que este ato se realize aqui. Parabenizo também a todos os seus professores, a todo seu corpo técnico-administrativo e estudantes. Quero, Carlos, homenageá-lo, dizendo que seu gesto, naquele momento, e a homenagem ao relembrarmos o seu gesto, hoje, significa a crença que nós temos e que, para que possamos usufruir da sombra, - e não só da sombra - que as árvores são capazes de nos proporcionar, é preciso que sejamos capazes de preservá-las e por elas lutar, e também pela sombra que a Universidade poderá dar, e tem dado ao longo dos seus 100 anos, essa Universidade de l00 anos, mas a instituição universitária milenar, aquela instituição que está sempre de acordo com o seu tempo e a frente do seu tempo, aquela capaz de preservar a pluralidade do pensamento, a heterogeneidade, a diversidade de ser uma instituição capaz de expressar os sentimentos maiores de toda uma humanidade, e sem nenhum outro compromisso, a não ser com os valores maiores da verdade, da ética, da dignidade, da tolerância, do coletivo, do público. Esse é o papel que a Universidade Federal do Rio Grande do Sul vem fazendo ao longo de 100 anos, e ela quer continuar cumprindo com esse papel, e só consegue cumpri-lo quando encontra pessoas que a fazem no dia-a-dia, que a fizeram no passado e a fazem hoje, e aqueles que apóiam as pessoas capazes de, permanentemente, mostrar a sua indignação, indignação esta que será capaz de preservar a vida coletiva, a vida do planeta. Em nome da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, recebe as nossas homenagens, e, mais do que as nossas homenagens, obrigada pelo exemplo de luta, de dignidade e também de indignação. Muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Temos a honra de passar a palavra ao Vice-Prefeito Municipal, Sr. José Fortunati.

 

O SR. JOSÉ FORTUNATI: (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É uma Sessão que representa muito mais do que uma mera homenagem a alguém que, num determinado momento, teve a ousadia de subir em uma árvore. Mas mais do que isso, eu gostaria de refletir um pouco sobre o momento em que esse episódio se deu, e faço isso porque fui surpreendido, na Prefeitura Municipal, quando, coletivamente, olhávamos a fotografia, estampada no Jornal Zero Hora e um estagiário, um rapaz novo que, certamente, não viveu aquele momento, ele indagava: "Pô, só porque o cara trepou numa árvore, vai receber o título de Cidadão de Porto Alegre?" Certamente, muitos não entenderam e não estão entendendo o porquê desta homenagem, e não, com toda certeza, nós, que nos encontramos aqui. Mas exatamente por isso, para que fique aqui nos Anais da Câmara de Vereadores, é que venho a esta tribuna. Eu fui contemporâneo do Dayrell, enquanto ele cursava Engenharia, eu, aqui ao lado, cursava a Faculdade de Matemática, aliás era a Faculdade que abrigava o primeiro cidadão que também teve a ousadia de se unir ao gesto do Carlos Dayrell, que foi o Marcos, que, inclusive, aparece nas fotos. É importante relembrar que, naquele período, nós, que éramos moradores da Casa do Estudante, chamada Céu da UFRGS, fazíamos parte de uma casa que era considerada a casa modelo do País. O que significava ser casa de estudante modelo do País, uma casa que era tratada assim pela Universidade, mas que impedia que as mulheres ingressassem nela, como moradoras que pudessem transpor as portas e subindo para os andares? Nós tínhamos, e o Dayrell certamente lembra, uma forte vigilância que não só identificavam os homens que poderiam subir, como impediam que as mulheres subissem aos andares para visitar os seus colegas, os seus namorados, e assim por diante, ou mesmo mães ou irmãs que, porventura, quisessem visitar os seus filhos. Não era permitido que isso acontecesse. Não só isso, como segurança tão zelosa pela nossa vida sexual, ela tinha as chaves de todas as portas e armários de todos os estudantes daquela Casa. Como se não bastasse isso, para dar o exemplo, já que esta Faculdade respaldou o ato do Dayrell, do Marcos, eu fazia parte de uma Faculdade que não tinha uma história igual, pelo menos do ponto de vista de sua Direção. É importante resgatar isso para que não pareça que também alguns diretores colocados em nossas universidades não foram coniventes com a ditadura e a repressão. Na época, eu era Presidente do Diretório Acadêmico dos Estudantes de Matemática, e, pasmem, - falo para um diretor democrático, que é o Diretor Eduardo Carrion - o diretor da Faculdade se dava o luxo e o direito de abrir e fazer uma vistoria em toda a correspondência, antes de ela ser entregue ao Diretório Acadêmico. A censura prévia existia na nossa Universidade, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Recordo-me também que nesse período nós, numa universidade muito atuante como sempre foi a UFRGS, planejamos e realizamos uma manifestação pública contra uma homenagem que se realizava aqui ao lado, na Praça Argentina. O Poder Público de então homenageava o Ditador Jorge Videla, e o espírito democrático dos estudantes e professores que aqui se encontravam, resolveram, no mesmo dia, protestar. O que seria um simples protesto, virou numa verdadeira guerra campal, onde o pelotão de choque, que há anos felizmente não vejo, não só espancou, não só tripudiou, como também prendeu vários dos alunos que, porventura, naquele momento tentaram se manifestar contra uma homenagem. É importante resgatar esses fatos para que a gente perceba que o ato do Dayrell não foi simplesmente trepar numa árvore, mas foi feito num determinado contexto político, aliás contexto esse que quase o eliminou da universidade, porque não podemos esquecer que, naquele momento, os diretores das nossas faculdades e o Reitor tinham nas mãos dois portes de instrumentos: o Decreto-Lei 224 e o 477, que davam a eles o poder de, sumariamente, eliminar, retirar da nossa Universidade qualquer estudante ou qualquer professor que fosse considerado um agitador. E o Dayrell, quando começou a responder o processo no DOPS, esteve a ponto de ser expulso dessa Universidade, pelo 477. Só não o foi em função da repercussão que o fato teve e porque a sociedade, não somente Porto Alegre e no Estado do Rio Grande do Sul, acabou dando respaldo pleno a esse fato. Então, são pequenos fatos que eu trago a nossa memória, certamente alguns esquecidos por muitos que foram participantes desse processo, mas que demonstram o quanto é emblemática esta homenagem. A homenagem de alguém que, tendo uma consciência ecológica muito forte, teve a ousadia, numa conjuntura absolutamente adversa, de enfrentar, sim, não somente o poder público que, naquele momento tentava realizar, através de seus servidores, o corte das árvores, mas também que enfrentaria a Polícia Militar, o DOPS e as forças de repressão, que estavam extremamente atuantes. Um ato corajoso, ousado, e muito mais do que o ato em si, o ato ganha destaque exatamente pelo momento em que ele ocorreu. Por isso, meu caro Dayrell, eu quero dizer, em nome do Prefeito Raul Pont, que Porto Alegre se orgulha de receber esse mineiro como seu Cidadão. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de passarmos ao momento culminante desta verdadeira festa ecopolítica, eu quero também dizer que o Ver. Luiz Braz, Presidente da Câmara, está presidindo um ato solene, lá na Câmara, de entrega de um título ao novo Cidadão Ruy Carlos Osterman. Casualmente dito por outro jornalista, e eu também depois me recordei, porque eu fui um dos que chegou ali no momento em que aconteceu, a gente foi chamado para fazer aquela proteção humana e solidária, o Ruy Carlos Osterman foi o único jornalista que teve, na época, coragem de fazer uma crônica, um pronunciamento escrito a favor do ato do Dayrell, e, 20 anos depois, a história dá títulos, sem que ninguém tivesse combinado, aqui, no mesmo dia, a dois cidadãos que tiveram uma identidade forte naquele momento. Como disse o Prefeito Fortunati, foi um momento difícil. Não é fácil, só quem viveu aquele momento sabe o quanto aquele ato teve um significado político, de coragem e destemido, e que extrapola qualquer outro tipo de avaliação. Quero dizer a todos, em especial à Reitora e ao Diretor da Faculdade de Direito, que, para Câmara estar aqui na Universidade, é um passo muito importante. Para mim, e eu acredito que também para os Vereadores Sebenelo, Elói, Gérson, que estão aqui, nós estamos representando um momento em que nós propusemos que a Câmara fosse à comunidade. No ano passado tivemos a oportunidade de fazer uma Sessão Plenária da Câmara no Mercado Público, em homenagem ao restauro do patrimônio histórico e, fundamentalmente, ao ponto de encontro dos porto-alegrenses naquela Casa tão simbólica. Agora estamos aqui, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nesta Faculdade que também tem uma simbologia muito forte para todos nós. E eu acho que essa é uma visão que cultivamos, com muito carinho, com muita força, que a Câmara vá à comunidade, e quando o Ver. Gérson solicitou que fosse feita aqui, prontamente nós nos organizamos para isso, e eu tive a honra de ser indicado, inclusive como ex-aluno, para estar aqui neste momento tão importante. Quero dizer, também, que Porto Alegre tem o orgulho de ser uma das cidades que tem o melhor cuidado com essa questão e, principalmente, - não sei dizer exatamente quanto - Porto Alegre é a cidade que tem o maior número de árvores nas vias públicas, nas áreas públicas, em comparação com as outras capitais do País. E o 2º Plano de Desenvolvimento Urbano, que está na Câmara, teve também uma inovação, que é forte e que tem, seguramente, influência de todos que estão aqui no ato do Dayrell: é o 2º Plano de Desenvolvimento Urbano e Ambiental, esse é um título que se agregou. Quero pedir desculpas por eu também ter fugido ao protocolo, pois não devo falar, somente presidir, mas eu não pude segurar a vontade de também dizer que nós queremos homenagear o ecocidadão pelo gesto ecopolítico que ele praticou. Passamos, de imediato, àquele momento que todos estão esperando, que é a entrega do título de Cidadão de Porto Alegre e da medalha de Porto Alegre. Eu convido para fazer a entrega, o Prefeito em Exercício, José Fortunati, e o Ver. Gerson Almeida, juntamente, com este Presidente.

 

(É realizada a entrega do título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Sr. Carlos Alberto Dayrell.)

 

 O SR. PRESIDENTE: O Sr. Carlos Alberto Dayrell está com a palavra.

 

O SR. CARLOS ALBERTO DAYRELL: Exmo. Sr. 1º. Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Clovis Ilgenfritz; Vice-Prefeito de Porto Alegre, Sr. José Fortunati; Reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Sra. Wrana Panizzi; Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dr. Eduardo Carrion; Estimado Presidente da AGAPAN Francisco Milanês e militantes do movimento ecológico de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul; caros amigos e amigas:

Eu fico aqui pensando se, por acaso, vocês que aqui estão presentes, Vereadores da Câmara Municipal de Porto alegre, representantes da Faculdade de Direito, que está comemorando o centenário de fundação da instituição, militantes do movimento ecológico gaúcho, representados pela COOLMEIA, PANGEA, UNIÃO PELA VIDA, NEJ, Fundação GAIA E AGAPAN, - AGAPAN que merece lembrar, ontem fez 27 anos de fundação, com uma trajetória reconhecida não só aqui no Estado, mas em todo o Brasil e, inclusive, no Exterior – eu fico pensando se vocês podem ter idéia do que representa este momento para o cidadão Carlos Dayrell, um desconhecido que veio de Minas Gerais, que saiu de Montes Claros, no norte do Estado, um sertanejo que se define no dizer de Guimarães Rosa: "Sou só um sertanejo. Nestas altas idéias, navego mal". E quem é o sertanejo?

O sertanejo é um homem criado num ambiente onde o contrato natural que ele estabelece com o seu meio é mediado pelo respeito com a natureza. E pode ter sido um fragmento deste sentimento, lapidado pelo sentimento gaúcho na sua relação com a imensidão dos pampas, que fez o ainda menino mover-se por um sentimento natural, tornar-se sem saber e sem querer, através de um gesto coletivo, um símbolo de setores de uma sociedade que se propõe estabelecer um novo contrato com o seu meio.

Pois é um destes sertanejos que está aqui nesta cerimônia, que está aqui hoje para receber o título de Cidadão de Porto Alegre, onde, com muita responsabilidade e carinho, vai levar de volta para o lugar onde vive, quem sabe um elo invisível traçado hoje por vocês, um elo invisível, mas permanente, de amor por uma causa que é muito maior que a soma de todos nós.

Vocês não podem imaginar a emoção que isto faz comigo e, na verdade, é até difícil entender como hoje estou aqui nesta cerimônia. Certamente, para eu estar aqui hoje, muita coisa mudou nos corações das pessoas que lidam diariamente com decisões que influenciam a vida de centenas de milhares de cidadãos. Inclusive com a minha. Muita coisa mudou, pois, quando saí daqui em 1976, de volta a Minas Gerais, um ano e meio após o episódio da subida na árvore, minha mãe ainda carregava consigo a tensão de uma possível represália da ditadura militar contra o seu filho.

Episódio que compartilho com Marcos Saraçol, Teresa Jardim, com a imprensa de Porto Alegre, com os militantes da AGAPAN, com centenas de pessoas, estudantes populares que anonimamente lutaram, naquele dia, pela preservação da árvore e não se curvaram diante do aparato militar, e que, de lá para cá, provocaram um salto na luta pela defesa, não só das árvores, isoladamente, mas em defesa da vida, em seu sentido mais amplo. Esta homenagem compartilho com todos vocês.

Eu não poderia estar aqui se não fossem os ensinamentos de meus pais que, em 1970, ainda com 17 anos, permitiram que saísse de Sete Lagoas para estudar e trabalhar em Porto Alegre.

Eu não poderia estar aqui se não fosse o carinho do meu irmão Geraldo Dayrell Filho, hoje falecido, e sua esposa Luísa, seus filhos, e de toda a família Hiwatashi, ilustres horticultores de Porto Alegre, que me acolheram como membro da família e me estimularam na profissão que segui.

Eu não poderia estar aqui se não fossem pessoas como José Luztenberger, Augusto Carneiro, Caio Lustosa, Magda Renner e muitos outros aqui presentes, inclusive que colaboraram no desenvolvimento da percepção de solidariedade não só com a vida no Planeta Terra de hoje, mas uma solidariedade intergeneracional, solidariedade para com a vida das gerações que estão por vir, solidariedade para com as gerações anteriores que souberam nos legar um planeta amplo de possibilidades e de potencialidades.

Solidariedade que não se traduz em grandes feitos mas de um construir diário na busca de sociedades sustentáveis, sociedades que incluem a intricada e maravilhosa teia de seres vivos, onde suas mais de 30 milhões de diferentes espécies de seres vivos, que denominamos de biodiversidade, nos garantem a possibilidade de continuidade da vida no Planeta Terra.

Biodiversidade que está ameaçada pela ganância de uma economia baseada na exploração dos seres vivos (e entre eles, o próprio homem), na dilapidação dos recursos naturais, onde poucas empresas transnacionais conseguem impor os seus interesses numa escala global, corrompendo governos e legisladores. Temos exemplo no Brasil a Lei das Patentes, que se curva ao permitir a difusão de novos seres vivos criados pelo homem, cujos riscos de sua manipulação na natureza ainda são desconhecidos. Biodiversidade que está ameaçada por alguns setores prepotentes ligados à ciência que avaliza sem assinar nenhuma promissória. Afinal, ao contrário dos produtos químicos, os produtos da engenharia genética não podem ser retirados do mercado. Me vem à mente a imagem do Titanic, saudado pelos setores sociais dominantes da época como insubmergível. Um "iceberg" o afundou. O mundo ficou perplexo. A engenharia genética está aí, e mal conhecemos a ponta deste "iceberg".

Então, eu me pergunto: o que podemos fazer além de homenagear pessoas que lutam em defesa da vida em seu sentido mais amplo? O que podemos fazer além de subir nas árvores?

Eu agradeço muito por este carinho todo, certamente ele vai ficar inesquecível na minha memória, de toda a minha família e de todos os companheiros da região onde a gente vive. Com certeza, eles compartilham esse mesmo sentimento que vocês, aqui, estão nos transmitindo. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Finalizando esta Sessão, convidamos a todos para ouvir o Hino Rio-grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-grandense.)

 

(Encerra-se a Sessão às 21h30min.)

 

* * * * *